Cerimônia de chá japonesa: O que o Japão nos ensina por meio dessa tradição secular?

Por Narumi Ito

ARTIGOS

1/27/2022

Imagem: Cha no yu nichinichisō por Mizuno Toshikata

Chanoyu significa literalmente "água quente para o chá”, mas é comumente traduzida como a cerimônia de chá japonesa. O ritual envolve, entre outros acontecimentos, a preparação do chá verde em pó matcha (抹茶). Outra denominação importante é chadō (茶道), que pode ser traduzida como o “caminho do chá”. Na modernidade, o ritual é reconhecido e praticado em diversos países, e a chanoyu leva consigo, do Japão para o mundo, uma expressão da arte tradicional japonesa. A prática carrega ideais, costumes e práticas que envolvem a cultura e a história do Japão.

O chá é a segunda bebida mais consumida no mundo, depois da água (DUBRIN, 2010). Na contemporaneidade, a produção global se encontra em torno de quatro milhões de toneladas métricas por ano, ou seja, aproximadamente três milhões e meio de hectares da superfície da terra são destinadas às plantações dessa erva (DRIEM, 2019).

Toda essa difusão e expansão do chá em âmbito mundial inclui diversos fatores, entre eles: o poder medicinal e energético, o sabor revigorante, os variados modos de preparo e seu aspecto social. Além dessas razões, vale ressaltar que o Japão foi o único país que elaborou uma cerimônia tão sofisticada para se beber o chá, que persistiu por séculos e continua com seus fundamentos vivos, passando de geração em geração.

A chanoyu concentra em si diversos aspectos da cultura japonesa, uma arte que engloba outras manifestações culturais nipônicas. Alguns registros históricos indicam que o primeiro contato com a chanoyu que o Ocidente teve na Ásia ocorreu a partir do século XVI, período em que várias embarcações portuguesas e espanholas chegavam ao Japão. A cerimônia de chá, apesar de fazer parte de uma tradição antiga, continua se inovando e servindo como um evento que agrada em um contexto global, não apenas a sociedade asiática.

Entre outros ensinamentos, destaco que o ritual do chá nos provoca a refletir sobre nós mesmos e o que podemos fazer por um mundo melhor. Em um evento de aproximadamente cinco pessoas, o mestre conduz os acontecimentos prezando pelos princípios: wa (harmonia), kei (respeito), sei (pureza) e jaku (tranquilidade). Nesse momento meditativo, temos a oportunidade de valorizar o momento presente, o conceito Ichigo ichie (一期一会, uma vez, um encontro) resume bem a essência da chanoyu, pois em um ritual, o ideal é que nossa mente se desvencilhe das preocupações mundanas para podermos nos entregar totalmente e aproveitarmos de modo pleno tudo o que o cerimonial pode nos oferecer.

Acompanhe o ritual resumido no vídeo baixo:

Para conhecer mais:

DRIEM, George Van. The Tale of Tea: A Comprehensive History of Tea from Prehistoric Times to the Present Day. Boston: Brill, NV Koninklijke. 1ª edição, 2019.
DUBRIN, Beverly. Tea culture: history, traditions, celebrations, recipes e more. Watertown, MA: Charlesbridge Publishing, Inc. 2010.
GARCÍA, Héctor; MIRALLES, Francesc. Ichigo-ichie. Tradução de Beatriz Medina. Rio de Janeiro: Sextante, 2019.
HAMMITZSCH, Horst. O zen na arte da cerimônia do chá. Tradução Alayde Mutzenbecher. São Paulo: Editora Pensamento, 2016.
OKAKURA, Kakuzō. O Livro do Chá. 2° edição. Prefácio e Posfácio de Hounsai Genshitsu Sen. Tradução de Leiko Gotoda. São Paulo: Estação Liberdade, 2008.

Narumi Ito é mestra do Programa de Pós-Graduação em Língua, Literatura e Cultura Japonesa (FFLCH-USP) e bolsista da FAPESP. Graduada em Letras - Inglês, pela Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Como pesquisadora, tem interesse pelos temas relacionados à Cultura Japonesa, à Cerimônia de Chá e ao Zen Budismo. Participa da Comissão de Atividades Literárias vinculada à Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social (BUNKYO) e do Grupo de Pesquisa Pensamento Japonês: princípios e desdobramentos.